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Sempre Convosco

A fase atual de Priscilla Pessoa discute, sem dúvida, o mito da deusa-mãe. Professora de arte pela UFMS por formação e vocação, pintora, desenhista e instaladora, seu nome surge como um dos protagonistas da atual arte sul-mato-grossense. Vi Priscilla pela primeira vez em seu ateliê, no princípio deste século XXI e a indiquei para a edição do Festival América do Sul da ocasião. Estava pronta, com uma pintura no limite entre o fetiche e o “assustador” e um realismo mágico convincente. Tenho acompanhado sua trajetória desde então. Sua pintura nunca abandonou a visão mágica do realismo, mas nesta fase retorna com mais poder psicológico, nos fazendo reflexionar profundamente sobre a mulher e sua posição nas civilizações do passado e nas recentes.

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Estamos vivendo a maior onda histórica do dito empoderamento feminino, discussões sobre gênero, assédio e o repulsivo feminicídio. A artista nos leva ao plano superior dessa discussão toda, o plano da consciência, onde tudo acontece primeiro. Leva-nos para a origem:  A história de Maria, mãe de Jesus, virgem, perfeita para uma visão do mundo patriarcalista das religiões nascidas no Oriente Médio que ainda formam almas e dirigem a vida das pessoas. Os monoteístas são extremamente machistas, e não nos deixaram ter uma deusa. O útero é o criador. O útero do universo cria estrelas e deuses, inclusive nós mesmos. Deus é o feminino, o que gera e cria.

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Sobre os trabalhos, relembra a artista que o azul, o branco, o dourado, o lírio, a pomba e outros elementos presentes há séculos na História da Arte tradicionalmente reafirmam “a pureza e a divindade de Maria como uma ponte entre todas as obras, uma herança irreparável, marcando a relação entre os desígnios da Virgem e a idealização do feminino”. Através desses elementos e partindo sempre do episódio da Anunciação e seus desdobramentos, enxerga neles o que a cultura cristã espera da mulher (mas nem tanto, diria...). Também sentimos nas “anunciações” de Priscilla alusões ao mito da cinderela - de menina borralheira à rainha! Penso ser este o grande anseio feminino no curso da civilização, de retomar o destaque primordial, o matriarcalismo, perdido ou sufocado nos primórdios da sociedade.

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Priscilla Pessoa quer, com esses aspectos, igualar todas as marias e Marias - inclusive a Madalena - do planeta  nessa nova perspectiva da mulher. Ela claramente se engaja na luta pela condição de cidadania para as que há séculos vivem o problema do subjugo, e que neste momento se levantam. Estaria próxima a chegada da Deusa, como diriam místicos e profetas?  A Virgem Maria é uma das faces da velha e indispensável deusa-mãe. Finalmente ela vem assumindo seu papel no dogma da espiritualidade e, também, nas  leis da sociedade contemporânea.

 

 

Humberto Espíndola

Artista plástico, membro da ABCA.

Setembro 2018

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