PRISCILLAPESSOA
artista visual
Inventário do Intermédio
"Eu não sou eu nem sou o outro. Sou qualquer coisa de intermédio. Pilar da ponte de tédio. Que vai de mim para o outro."
Mário de Sá-Carneiro.
Desde 2015 tenho feito inventários dos meus furtos. Sempre furtei mentalmente (para fins de coisa nenhuma) conversas de gente que não conheço sobre assuntos que não me dizem respeito, mas que me tiram do limbo em que geralmente fico quando estou em salas de espera, mercados, filas, parquinhos, e tantos lugares em que estamos juntos sem estar.
Antes, só prestava atenção e ficava imaginando as coisas ditas, me apropriando delas para passar o tempo com essas narrativas descartáveis. Mas desde então anoto trechos dessas conversas furtadas e produzo, a partir de algumas delas, desenhos, pinturas, fotografias e objetos. Penso em vários nomes para essa operação: repente; representação; tradução; um novo texto; um pretexto para criar imagens.
Produzo essas imagens a partir de referências também apropriadas por aí: encontradas nas redes sociais, fotografadas nas ruas, recortadas de livros, emprestadas de pertences alheios. Esse é outro dos meus inventários. Me torno, assim, o intermédio: Trago o mundo dos outros para o meu e devolvo para outros outros.