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Todo santo dia

Imagens do cotidiano, cenas banais de qualquer pessoa comum ao estender roupa no varal, lavar o cabelo no tanque, sentar-se na cama, tomar o café com os amigos. Poderia ser uma exposição sobre o hodierno, porém ao descobrirmos os títulos de cada trabalho, essas cenas começam a ganhar camadas de leitura.

“João” é o título da pintura onde vemos uma moça que lava o cabelo no tanque da área de serviço, em questão, João Batista, o homem que batizou Jesus. O rito de jogar água na cabeça é revisto na contemporaneidade como de improviso onde a moça, sem tempo pro banho completo, lava seu cabelo entre pia suja, tábua de passar e roupas estendidas.

Nas aquarelas do políptico “O dia do Divino”, acompanhamos um pombo (animal que é considerado uma praga urbana em muitas cidades) por um dia. Seu cotidiano tem socialização com outros pombos, come, namora, voa e por fim, é atropelado e esmagado contra o asfalto. O Divino espírito santo aqui, não é branco e não tem uma vida gloriosa ao lado do pai e do filho.

A pintura/Instalação “Betsabá”, cria uma conexão entre a sala de Lídia Baís e a exposição de Priscilla, uma metáfora a partir da personagem bíblica que foi uma das mulheres mais poderosas do Antigo Testamento, sendo uma das esposas do Rei Daví e mãe de Salomão. Para a artista, simboliza a árdua tarefa de ser artista mulher no interior do Brasil.

A exposição apresenta uma humanização de cenas bíblicas e da vida de santos católicos. Como se tivesse recebido a encomenda de ilustrar a Bíblia numa versão contemporânea, sem idealizações, sacralizações ou invenções, a artista nos coloca como observadores de um reality show, nos deparamos com a vida como ela é, sem auréola, mesmo quando o personagem principal é divino.

 

Evandro Prado

Artista visual

 

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